Viagem...
Do alto da minha montanha escuto um silêncio ensurdecedor.
Deixo que o céu projecte o meu palco no chão e visto-me de ideias.
O sangue que me corre nas veias é feito de letras.
Dentro de mim vivem poemas que me sacodem o medo.
Há noites em que me cantam fantasmas e sonhos.
Da luz com que materializo as sombras, sou a linha de que esboça os contornos de cada história.
Descalço os sapatos e subo às nuvens. Há alturas em que carrego a poeira que desprende as asa da minha mente.
Nestes instantes sou do tamanho do tempo.
Com pressa de arrumar a desordem em que se fazem os dias.
O amanhecer sacode as lágrimas dos versos por onde dancei e me perdi, sem resposta para voltar.
Falta-me o chão. A cortina insiste em fechar, mas o palco é meu e vou continuar a escrever o argumento.
Sofia Martins