Queria traduzir os silêncios
que te borbulham entre os dedos,
enganar os compassos mortos,
soltar as vontades presas
e costuradas no parapeito do coração.
Queria beijar essa boca
que só em prova se sente,
chover no molhado do teu cheiro
e acender o fogo que sopra o amor
na ternura dos lençóis de cetim.
Queria fazer outro caminho
contigo e no teu corpo,
soltar os poros da alma
e colher frutos de êxtase
num pomar de carinho.
Queria amanhecer contigo
e nas brechas do desalinho do tempo
dissolver o sono que me roubas,
porque é tanta a noite
que me sobra nos braços!
( © António Carlos Santos )