Escrevias pela noite fora.
Olhava-te, olhava
o que ia ficando nas pausas entre cada
sorriso.
Por ti mudei a razão das coisas,
faz de conta que não sei as coisas que não queres
que saiba, acabei por te pensar com crianças
à volta.
Agora há prédios onde havia
laranjeiras e romãs no chão e as palavras
nem o sabem dizer, apenas apontam a rua
que foi comum, o quarto estreito. Um livro
é suficiente neste passeio.
Quando não escreves
estás a ler e ao lado das árvores o silêncio
é maior..
Queria prender-te, tornar a perder-te, achar-te
assim por acaso no meu dia livre a meio
da semana...
Pudesse eu propor-te vida menos igual, outras iguais obrigações.
Havias de rir, sair à rua, comprar o jornal.
Helder Moura Pereira,
in “De Novo as Sombras e as Calmas" (c/ supressões)