Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Viver é aceitar que cada minuto é um milagre que não poderá ser repetido..!

Primavera vertical

 
Vento arado em toalhas de versos
no silêncio dos pássaros. 
Nos brincos da noite exausta
calores erguidos nas sugestões da pele
e no ventre acetinado dos lençóis. 
 
Maré alta e suave linho
brisa ligeira que esparge
sobre as águas dos rios cintilantes
toda a saciedade da flor de cerejeira.
 
Véus de lua levedados
nos pedaços da epiderme
e nas veias sonoras do deleite
árvores curvadas, palavras de água
fulgor e orgia embriagada.
 
É amanhã agora,
primavera vertical no peito
e o Amor…
é vida inteira que levarei comigo.
 
© António Carlos Santos 
 

manhas.jpg

 

Ilumina-me!

 
Ilumina-me,
Enquanto não há amanhã
 
Gosto de ti como quem abraça o fogo
Gosto de ti como quem vence o espaço
 
Como quem abre o regaço
Como quem salta o vazio
....
Gosto de ti como quem mata o degredo
Gosto de ti como quem finta o futuro
Gosto de ti como quem diz não ter medo
Como quem mente em segredo
 
Como quem baila na estrada
Vestido feito de nada
As mãos fartas do corpo
Um beijo louco no porto
E uma cidade p'ra ti
 
Gosto de ti como uma estrela no dia
Gosto de ti quando uma nuvem começa
Gosto de ti quando o teu corpo pedia
Quando nas mãos me ardia
 
Como silêncio na guerra
Beijos de luz e de terra
E num passado imperfeito
Um fogo farto no peito
E um mundo longe de nós
 
Ilumina-me,
Enquanto não há amanhã!
 
(Letra Pedro Abrunhosa)
 
(Foto Calimero)

tarde.jpg

 

 

No coração, talvez...

No coração, talvez, ou diga antes:
Uma ferida rasgada de navalha,
Por onde vai a vida, tão mal gasta.
Na total consciência nos retalha.
O desejar, o querer, o não bastar,
Enganada procura da razão
Que o acaso de sermos justifique,
Eis o que dói, talvez no coração.

José Saramago, in "Os Poemas Possíveis

OIP[1].jpg

 

Trago-te!

Trago-te no regaço búzios a assobiar

para agitar o crepúsculo e os abismos
pincelados na correnteza do rosto do mar,
pássaros a chilrear suspiros por entre
as últimas pétalas e a relva orvalhada.
 
Trago-te nas mãos o fogo vestido de carmesim
a evocação dos relâmpagos atrás das pálpebras
e a raiz das coisas velhas, usadas e gastas
como se fossem flores frescas ao vento e ao sol.
 
Trago-te a ampulheta do céu em repouso
os meus olhos apaixonados pelos teus
e nos meus braços que são as tuas camélias
todo o nosso amor bordado entre os dedos.
 
© António Carlos Santos

 

OIP[2].jpg