Amanhã!..
LXXXV
Amanha não sei o que farei,
Talvez desate em mim o tempo
Talvez abafe em mim o tempo
Talvez corra em direcção a nada
Talvez guarde um poema na gaveta.
Alguem me diz que devia mudar...reconstruir-me
Como se uma pessoa fosse uma casa..
Em cada compartimento um sentimento..uma frase..um quadro..uma angustia
Em cada móvel um segredo..uma aspiração
Amanhã talvez seja um nobre cidadão
A observar o mundo com olhos irrequietos
como se estivesse dentro de uma solidão
E a claridade das ruas fosse a minha companhia secreta
Talvez passe junto a alguem que me conhece..
Porque somos iguais..mas não sabemos..por isso somos desconhecidos
Se eu coubesse dentro de mim,,,escolheria um tronco de arvore..só para mim
E se chovesse..talvez me abrigasse por dentro das palavras
Como quem discorre sobre ideias descomunais
Amanha..sei que terei a tristeza garantida...
Sei que posso ser a voz que se cruza com outras vozes
E que isso me arrepia...
Do livro:
As Sombras não caem das arvores
Casimiro Mestre
(FolhasdeLuar)