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TERAPIA DAS PALAVRAS...

Viver é aceitar que cada minuto é um milagre que não poderá ser repetido..!

TERAPIA DAS PALAVRAS...

Viver é aceitar que cada minuto é um milagre que não poderá ser repetido..!

Não tenhas medo do amor...

Não tenhas medo do amor. Pousa a tua mão
devagar sobre o peito da terra e sente respirar
no seu seio os nomes das coisas que ali estão a
...crescer: o linho e genciana; as ervilhas-de-cheiro
e as campainhas azuis; a menta perfumada para
as infusões do verão e a teia de raízes de um
pequeno loureiro que se organiza como uma rede
de veias na confusão de um corpo. A vida nunca
foi só Inverno, nunca foi só bruma e desamparo.
Se bem que chova ainda, não te importes: pousa a
tua mão devagar sobre o teu peito e ouve o clamor
da tempestade que faz ruir os muros: explode no
teu coração um amor-perfeito, será doce o seu
pólen na corola de um beijo, não tenhas medo,
hão-de pedir-to quando chegar a primavera.

 

**Maria do Rosário Pedreira*

 

  

 



As horas..

Não me arrependo das horas que perdi a esperar-te quando ainda havia a esperança.

A esperança que havia ainda quando, a esperar-te, perdi horas de que não me arrependo.



José Luís Peixoto

O pouco é para ontem...

A causa é esta: não matar a alma
mesmo que o corpo estrebuche. E não vender a alma
por muito que o corpo necessite. Deixem
passar o amor, ainda falta um acto. Até
ao cair do pano pode o actor melhorar a performance,
puxar pelo público, com...prometer a plateia,
merecer os aplausos.

Um actor. Um acto. Um acto de amor,
um auto da coragem contra todas as barcas do inferno.
Um auto da alma, pela alma, pela vida, pela capacidade
de amar, de vencer, de transformar. Sem
abdicar, sem ceder, sem vender essa alma
ao diabo. Mesmo que o actor tenha de fingir que é
o que não é. Ainda que o actor não tenha de fingir, e seja.
A vida é uma peça a que falta sempre um acto. O tal.
Representar é viver. E a vida deixa sempre um espaço
para a nossa vontade, para o nosso talento,
para a nossa liberdade.

Mexe-te. Está já a subir o pano.
O público está à espera. Não esperes tu.
É agora. Começa hoje o desempenho do futuro.
Atenção às deixas. Não esqueças a marcação. Coloca
a voz, faz-te ouvir, mas não te excedas. O equilíbrio
é fundamental. Repara como reagem aos teus gestos.
Controla. E controla-te. Isso! Sabes debitar o texto
com todas as nuances ensaiadas. A plateia está rendida
às tuas capacidades. Vá! Puxa por eles!, aquece
o ambiente! E prepara-te para regressar
depois do intervalo.

É o último acto.
O mais importante. O decisivo. Vais
estar por tua conta. Sem texto. Sem ponto.
É a hora do improviso. Não tens mais deixas.
Não podes contar com mais ninguém.
É à tua capacidade que tens de pedir ajuda.
É ao teu talento que tens de pedir meças.
É ao teu público que tens de pedir mais.
Mais atenção. Mais compreensão. Mais emoção. Mais desafios.
Estás sozinho em palco. A vida é tua. A peça
é agora a tua vida. Já não és um actor. És o actor.
Não facilites. Não cedas. Não te importes
até de ser vaiado. Tu podes dar a volta
ao texto, ao desempenho, à vida.
Olha-os nos olhos.
Repara como brilham. Estão excitados.
Parecem nem acreditar. Mas tu,
acredita, acredita sempre. Vai! Prossegue. Não os deixes
respirar. Mas não percas tu o fôlego. O clímax
está perto. Olha como vacilam. Esperam. Esperam-te,
iluminado. Com toda a luz no rosto. Com toda a luz
nas mãos. Agora! Agora! Agora! Leva-os
até ao cimo, até ao riso, até às lágrimas.
Até ao osso.

São para ti estes vivas, os bis,
os gritos que chamam o teu nome!
Porque só tu determinaste o fim da peça
e um fim para o actor. Recebe, pois,
em silêncio, os aplausos. Ninguém,
mais que tu, os mereceu.


in O POUCO É PARA ONTEM, Litexa, 2008.
Joaquim Pessoa

Esta noite...

Esta noite esperei-te olhando-te nos olhos na noite velados na noite brilhantes...

Esta noite esperei-te abraçando o teu corpo de prata vestido que a lua me trouxe

Esta noite esperei-te neste universo que é nosso e tanto aguardei que nele me tornei o que nele é só teu.

Vivo agora numa estrela fria velha e distante e é da tua luz que me ilumina que me chega num instante esta vida que me deste nesta noite que vieste e comigo ficaste.

 

Jose Maria Almeida

 

Sobressaltos...

- Como me dói a vida, hoje…

Dizes-me tu em segredo, não vá Deus zangar-se contigo, por constantemente maldizeres o destino, (fado?) que te foi traçado e que percorres, constantemente, na iminência de pisares o risco.
Depois...ficas com essa cara de mártir que a bem da verdade, tenho de concordar, te fica bem, enquanto apertas as mãos, como se apertasses os sentimentos que, constantemente sufocas, dentro de ti.
Poisas os teus olhos nos meus, num pedido mudo de ajuda e eu, impotente, perante a grandeza da tua alma, fico ali a admirar-te ainda mais, se é que isso é possível, porque a tua transcendência é quase contagiosa, levando-me por caminhos, que só tu conheces.
Ontem, tinha admiração por ti, uma admiração profunda.
Hoje amo-te acima de todas as coisas…
Aliás, as coisas não são para se amarem. São apenas para se terem.
Amo-te, acima de qualquer outra pessoa. Já sabias, não sabias? Sabias!
Não há segredos entre nós, apenas uma partilha desinteressada, de parte a parte, de sentimentos incomuns, à maior parte dos mortais.

- Como me dói a vida, hoje…

 

Voltas a repetir e eu deixo de ser quem sou e abraço-te num abraço eterno. Beijo-te os olhos, a curva do pescoço, o ombro nu e evito a tua boca porque tenho medo de morrer dentro dela. Tenho medo de me afogar na tua seiva. Tenho medo de mim, em ti…
Será que me percebes, minha amada?
Eu sei que esta expressão “minha amada”, soa a filme a preto e branco, sem som e onde as legendas corriam sôfregas e nós a lê-las, sôfregos, para não perdemos pitada, daqueles olhares velados e dos beijos dados de boca fechada, mas que arrancavam suspiros, até nos mais púdicos.
Amo-te assim, todos os dias… Amo-te assim, sempre!

- Como me dói a vida, hoje…

E porque as tuas dores são contagiosas, tomo-as como minhas e sofro no teu colo de amante, no teu abraço apertado e nas curvas insinuantes das tuas ancas, que tenho entre as minhas mãos, para melhor absorver essa dor que te consome e que agora, também me pertence.
Consigo, finalmente, vislumbrar um sorriso, breve, nos teus lábios. Talvez seja, por eles também já serem meus.
Ó amada minha, como perfumas a minha existência, com esses olhos de carvão, que mergulhas nos meus e onde me tens cativo, para sempre.
E de caçador, passo a presa…
E absorves-me, bebes-me com uma languidez que te é tão própria, numa entrega de sentidos e quereres.
Renovamos votos antigos.
Sobressaltos há muito esquecidos, exultam-se.
E eu e tu somos um…

- O que te dói? – pergunto-te com a minha alma colada à tua.

Emudecemos num beijo…

- Agora não me dói nada, – respondes humedecendo os lábios para rimarem com os teus olhos, que choram por alegrias, que apenas o coração pode sentir.
Instala-se em nós, uma vontade imensa de transpor, aquilo a que chamam felicidade e a que nós chamamos, entrega.
Volto a mergulhar nas curvas sinuosas do teu corpo( meu) e pergunto-te ao ouvido:

- Queres ser feliz comigo?

- Ontem, já era tarde. – Respondes, baixinho.

Calam-se as palavras porque as nossas almas pedem silêncio, enquanto a dor que há pouco te corroía a vida, se transforma num estado de graça, que só os amantes podem compreender…

Ana Fonseca da Luz

 

 

 

Gota-a-Gota..!!

 

Gota-a-gota esvai-se o tempo, sem pudor,

rompe-se a sombra, ilumina-se o sentid...o…

Dói o minuto perdido… para sempre,

na cálida memória já vazia

do rio que te corre no peito…sereno.

Desce devagar o bater do coração,

na hora amordaçada de desejo

e o fumo enfeita-te o olhar,

de madrugadas perfumadas de jasmim.

Depois…

Depois no meu regaço, tão teu,

bebes o poema que te leio,

ouvindo o sibilar do vento que anuncia,

dolorosas ausências e saudades.

Abre-se o peito como rosa desfolhada.

num cadenciar pautado de silêncios.

E entre palavras escolhidas a preceito,

para que te toquem o coração,

renasce o amor de tempos idos,

numa doce inocência de carmim.

Gota-a-gota…

esvai-se o tempo.

sem pudor,

ficando em mim.

esta ausência.

de ti…

Magnólia
 
Por: Ana Fonseca da Luz
 
 
 

Pudesse...

Pudesse eu ser tu
E em tua saudade ser a minha própria espera.

Mas eu deito-me em teu leito
Quando apenas queria dormir em ti.
...
E sonho-te
Quando ansiava ser um sonho teu.

No poema "O amor, meu amor"
 
Mia Couto

Sou...assim..!

"Sou pessoa de dentro pra fora. A minha beleza está na minha essência e no meu caráter. Acredito em sonhos... Mas quando sonho, sonho alto. Estou aqui é pra viver, cair, aprender, levantar e seguir em frente. Sou isso hoje… Amanhã, já me reinventei. Reinvento-me sempre que a vida pede um pouco mais de mim. Sou complexa, sou mistura, sou mulher com cara de menina… E vice-versa. Perco-me, procuro-m...e e encontro-me. E quando necessário, enlouqueço e deixo passar. Não me dou pela metade, não sou tua meio amiga, nem teu quase amor. Ou sou tudo ou sou nada. Não suporto meios termos. Sou aluada, mas não sou burra. Ingênua, mas não santa. Sou pessoa com um riso fácil e apesar de não parecer... choro também!"


 

Talvez nao saibas...

Talvez não saibas mas dormes nos meus dedos
aonde fazem ninho as andorinhas
e crescem frutos ruivos e há segredos
das mais pequenas coisas que são minhas.

Talvez tu não conheças mas existe
um bosque de folhagem permanente
aonde não te encontro e fico triste
mas só de te buscar fico contente.

Talvez não saibas mas digo que te amo
e construí no mar a nossa casa.
Que é por ti que pergunto é por ti que chamo
se a noite estende em mim a sua asa.

Talvez não compreendas mas o vento
anda a espalhar em ti os meus recados,
e que há um pôr-do-sol no pensamento
quando os dias são azuis e perfumados.

Oh meu amor, quem sabe se tu sabes
sequer se em ti existo ou sou demora,
ou sou como as palavras, essas aves
que cantam o teu nome a toda a hora...

 

Joaquim Pessoa

 

O ESPELHO

Há dias em que o detesto. Hoje é um desses dias… ou talvez não… Fico sempre à espera de que ele me mostre a menina e a mulher que um dia fui. Mas, incapaz de me mentir, ele mostra-me quem hoje sou realmente. Depois, olho com mais atenção e reparo que por detrás de uma ruga que ontem não estava cá e de um fio branco no cabelo que se esquivou à tinta do cabeleireiro, está uma mulher de verdade. Alegro-me, ao reconhecer-me no brilho do olhar, que continua o mesmo, e no sorriso ainda cativante que ofereço de bom grado às pessoas de quem gosto e a quem gosta de mim. Depois de uma análise mais detalhada, agrada-me o que vejo, se bem que a frescura dos vinte anos tenha desaparecido, tal como a graciosidade dos trinta e o esplendor dos quarenta, para dar lugar à maturidade e elegância dos cinquenta. Ajeito o cabelo para trás da orelha, retoco com o dedo o baton discreto que sempre uso e corrijo a base, porque me parece ter exagerado. Sorrio. Não está mal, não senhor… Ainda é cedo para sair. Ponho perfume, escolho o relógio que melhor combina com a roupa e peço a Deus que esteja sol, porque hoje, eu mereço e preciso dele, para me tirar desta penumbra que escondo sempre em mim. Há dias em que não sei se sou triste ou se estou feliz. Mas hoje, diante do espelho, jurei a mim mesma que ia estar feliz. Hoje, basta-me estar feliz. Volto ao espelho… Preciso de um último conselho sincero, antes de sair. Li algures que vemos melhor a nossa alma e a nossa essência, se fecharmos os olhos diante de um espelho. Pareceu-me na altura disparatada a ideia mas, neste momento, parece-me de tal maneira acertada, que não vacilo, quando penso em ficar em silêncio e de olhos fechados perante aquele meu companheiro que nunca me mente. Que não se coíbe de me dizer quando acordo com setenta anos, nem quando acordo com vinte, que não se apieda de mim quando me recuso a olhá-lo, porque não gosto da sua franqueza. E assim, de olhos fechados perante ele, aguardo que me mostre se valeu a pena ter percorrido o caminho que me trouxe até aqui. Se valeu a pena ter errado tantas vezes… Sorrio de olhos fechados, porque me apercebo de que, apesar de muitos erros, também consigo vislumbrar muitas decisões acertadas, muito caminho bem percorrido e, nesse momento, alcanço finalmente alguma paz. Fecho os olhos com um pouco mais de força, para poder recuar um pouco mais no tempo. Tenho saudades do que vejo, saudades do que deixei de viver, saudades de pequenos nadas que me fazem tanta falta, saudades de mim, sendo outra. Chegam-me lembranças de tempos muito felizes, perfumados de primaveras e, quando dou por isso, rola-me pela face uma lágrima que não é de tristeza, mas de saudade. Gosto de ter saudades, tal como gosto de fado, de flores do mato e do pôr-do-sol na praia, quando corre uma brisa morna. Gosto de ter saudades, tal como gosto de quem gosta de mim. Abro finalmente os olhos, depois deste passeio pela Rua da Saudade e vejo à minha frente uma mulher que faz amanhã cinquenta e um anos, sem complexos da idade e com uma vontade imensa de SER feliz. Retoco a maquilhagem que a lágrima esborratou, acerto o relógio, que ainda se rege pelo horário de inverno e saio para esta rua que se chama Realidade e que constantemente se cruza com a Rua da Saudade.

 

Ana Fonseca da Luz

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